11/25/2008

Compadecimento masculino.

Normalmente ela sempre chega com a mesma expressão: com um sorriso simples estampado no rosto; um jeito mudo de desejar bom dia. Às vezes o sorriso é maior do que o normal e isso realmente me anima. Reconheço no ato que está contente, de bem com a vida, e então o seu bom dia acaba saindo gritado com as risadas cheias de felicidade.
Hoje o sorriso estava desbotado, quase não era possível enxergá-lo. Seu rosto estava abatido e o bom dia não saiu. Ela por inteiro aparentava preocupação e cansaço. O corpo tenso e pálpebras pesadas. Não teve muita vontade de conversar nem de rir. Passou a manhã toda como se não estivesse ali, se comunicando basicamente através de gestos. Quando falou, falou pouco. A voz estava mole e as palavras eram duras.
Quase no fim do dia, prestes a ir embora, me confessou que não aguentava mais. A pressão estava forte, podia sentir o peso de um mundo inteiro caindo em suas costas e não conseguia fazer nada. As pernas estavam quase arriando, o coração também. Pediu-me - quase implorou na verdade - por um único momento de paz. Pela primeira vez, quis silêncio. Não podendo agir diferente, fiz o que ela queria. Sentei-me ao seu lado e me calei. Fiquei lá para garantir que ninguém iria incomodá-la. Fiquei lá para que ela não se sentisse sozinha por completo. Fiquei lá porque não poderia deixá-la de qualquer forma. Fiquei lá e não fiz nada enquanto tentava fazer de tudo pra vê-la bem novamente.
Quando ela se despediu de mim, quase uma hora depois, tive certeza de que tinha atingido meu objetivo. Amanhã verei seu sorriso de novo...


"Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arreada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou um compositor popular"
(Zeca Baleiro)

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